Os dois times precisavam do resultado. A frieza da Dinamarca era bem previsível, com um time muito fechado atrás e saindo em contra-ataque forte. O imprevisível seria a Camarões. Da primeira para a segunda partida o elenco se rebelou contra o técnico francês Paul Le Guen, e realizaram diversas mudanças de jogadores (3) e de posicionamento no time. O técnico assumiu os erros do primeiro jogo, e deixou que os jogadores se organizassem.
Eto'o jogava mais avançado, mais próximo de Webo. Reclamou que no jogo anterior ficou muito longe, na lateral direita o jogo todo. E essa mudança deu bastante certo. O time de Camarões criava muitas chances de gol, demonstrava uma vontade incrível de vencer. A marcação inclusive era no campo de ataque, na pressão, forçando erro dinamarquês. E foi assim que saiu o gol: passe bisonho do juventino Poulsen na defesa, a Jabulani cai no pé de Webo, que passa para Samuel Eto'o e ele fez jus à fama. Fantástica foi a expressão facial durante a comemoração. Achei um vídeo do globoesporte.com onde da para ver isso de um ângulo bem legal:
Tomado o gol, a Dinamarca aprendeu a lição e parou de errar na defesa. E principalmente, saía para o contra-ataque de maneira muito veloz e com passes precisos. Foi uma aula de contra-ataque, premiada a primeira vez aos 33' em excelente escapada por trás da zaga de Rommendahl. Em dois toques ele cruza no meio e encontra Bendtner chegando de carrinho também por trás da zaga. Jogo empatado.
O resultado era injusto pelo esforço e pela vontade ofensiva de Camarões, mas justo pelo pecados na defesa, pois a atenção deles atrás era nula. Rommendahl chegou mais duas vezes com muito perigo, uma delas com o zagueiro salvando uma bola em que o goleiro Souleymanou já estava vencido.
A vontade de vencer africana superava ofuscava qualquer defeito. Antes do intervalo, tiveram mais 2 chances de gol muito claras, uma de Emana salva pelo goleiro e outra em um chute bem dado de Eto'o, que caprichosamente pegou no pé da trave. Sem sombra nenhuma de dúvida o melhor primeiro tempo da Copa.
Para o segundo, o ritmo não mudou. Antes do primeiro minuto Camarões teve uma cabeçada perigosa de em jogada de escanteio. Em seguida, um chute dinamarquês de fora da área e uma chance clara para Webo, que exigiram trabalho dos respectivos goleiros.

Mas um erro tático básico de cobertura foi o que traiu a nação africana. A Dinamarca tinha uma avenida à sua disposição, pois o lateral esquerdo Assou-Ekotto (no. 2 na figura acima que presenta o local onde cada jogador mais ficou segundo dados da Fifa) não tinha cobertura, ao contrário do lado direito com Geremi (8) e Mbia (19). Em mais um contra-ataque por ali, Dennis Rommendahl (que para José Torero, era o Bip Bip correndo do coyote) recebeu nas costas, e dessa vez cortou para dentro e colocou no canto oposto, determinando a segunda virada dessa Copa, a segunda sobre seleções africanas. Para quem gosta, uma análise tática mais profunda do jogo pode ser lida no Zonal Marking.
Mesmo com 23 chutes e 7 escanteios (contra 13 e 2 dos dinamarqueses), Camarões é a primeira seleção a ser matematicamente eliminada, e a Holanda (sim, ela que nem no jogo estava) a primeira classificada. Punição pelo jogo ruim contra o Japão.
O jogo por ser muito bom gerou muitos bons comentários. Meus destaques vão para a análise de Mano Menezes, que usa o jogo para endossar a teoria da mudança de paradigma do futebol; para Rafael Belattini, via blog do Juca, falando que era um jogo em que não merecia ter perdedor, e de Vitor Birner, que deu grande destaque para a objetividade das equipes.
E assim foi o melhor jogo da Copa até aqui.
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