sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Dia #5 - Brasil venceu e convenceu



Photo by Justin Setterfield

A foto desse gol do Richarlison vai ser capa em centenas de sites de jornal. Vai ser publicada em milhões de stories, reels, tiktoks. E já virou figurinha do WhatsApp.


Mas mais do que isso, ficou pra história das copas. Como falado por Juca Kfouri e demais integrantes no podcast Posse de Bola da UOL , hoje presenciamos a melhor estreia do Brasil em copas desde 70. Ou seja, a melhor estreia vista por duas gerações de brasileiros.

Primeiro tempo bem truncado, com Neymar chamando a responsabilidade, mas com o time criando bem pouco. Vini Jr pegou na bola e também tentou, mas de resultados mesmo, só gritos do Galvão Bueno pela expectativa mesmo.

No segundo tempo, outra intensidade. Disse o Tite na coletiva pós jogo que no intervalo corrigiu a posicionamento do Paquetá. Eu vi também uma mudança de postura do time. Mais posse de bola, mais jogadas verticais pelos lados, sem passes de lado. Numa jogada individual do Neymar pelo lado, Vini Jr conclui, goleiro espalma no pés do Pombo que põe na rede.
Dez minutos depois, em nova jogada pelo mesmo lado esquerdo, Vini Jr cruza e vem essa pintura da foto. Mandou pro espaço qualquer tipo de maldição da camisa 9 que pudesse existir.

Acho que o principal motivo dessa estreia tão dominante foi que demos o devido valor ao adversário. Há 7 meses estamos preocupados com a Sérvia. Muitos dizem que no papel era o adversário mais difícil que os grandes favoritos iriam enfrentar. E tratamos eles assim. Diferentemente de Argentina e Alemanha.

No fim das contas a Sérvia até teve alguma posse nos terços finais de cada tempo. Só que uma atuação super concentrada da zaga, e um Casemiro desfilando de smoking com a imponência de um Lorde inglês na cabeça de área não permitiram nenhum susto.

Richarlison mereceu. Por todo carisma que ele tem, pela história de vida que ele não deixa de lembrar sempre, por todo posicionamento que ele teve quando precisava. Ah, e um extra por ser lá de Nova Venécia, representar o povo capixaba, que eu pessoalmente tenho um carinho especial

Mas tivemos um lado negativo do jogo também. Neymar, o jogador que mais recebeu faltas em toda primeira rodada até aqui, saiu machucado, chorou no banco, apareceu mancando na saída, e preocupa. É um tornozelo com crises recorrentes. Fica a tensão para os próximos dias. Mas felizmente, temos a primeira seleção sem "Neymar-dependência"dos últimos 8 anos. Ta claro que teremos um roteiro digno de boas séries para os próximos dias.


quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Dia #4 - Protestos mais incisivos, e a primeira aparição do futebol maroto

 Dia de quebrar todos os bolões. 


Um Marrocos x Croácia logo cedo com um 0 x 0 lembrando um jogo qualquer de campeonato paulista entre times do interior. Times tentando jogadas esporádicas, goleiros fazendo umas poucas defesas importantes. Nada além. 

Mas no segundo jogo do dia, Alemanha e Japão, vem a história. 

Antes, o time entra em campo com respaldo da federação alemã para um protesto mais incisivo que o da Inglaterra. Neuer inicialmente escondeu qual braçadeira estava usando, e foi questionado pela
arbitragem (usou a permitida). Mas vai ficar pra história mesmo a foto oficial )que a FIFA em si não divulgou) tapando a boca em sinal de censura. Achei um protesto muito bem colocado, impactante, que passou a mensagem. Curioso pra saber de quem foi a ideia l. Pra completar, vi passando no LinkedIn foto de dirigentes alemães usando a braçadeira One Love nas arquibancadas. Infelizmente perdi a referência, se alguém tiver me envie.

Photo by Alexander Hassenstein/Getty Images


No campo, mais história. É um roteiro muito parecido com o dia anterior: muito volume de jogo alemão no primeiro tempo, chances criadas, mas só um gol de pênalti, e mais um anulado. No segundo tempo, afobação da Alemanha e eficiência japonesa, com gols aos 30 e aos 38. No primeiro o Neuer rebateu pra dentro de uma forma que ele não faria em copas anteriores. E no segundo, bela jogada e um chute quase sem ângulo. 
A Alemanha tá longe de ser uma favorita que foi em copas anteriores, bem menos que a Argentina. É um momento de transição de gerações, mudança de técnico, medalhões envelhecidos. Vamos ver se junta os cacos pra seguir adiante. Comparando mais a vez com nossos hermanos, vejo aqui um grupo mais difícil, e por isso não cravo uma classificação certa aqui, muito menos em primeiro. 

Photo by Javier Solano/AFP
No jogo do almoço, um novo favorito desponta. Desde 2010 a Espanha sempre figura entre os favoritos padrão das Copas, é verdade. Mas dessa vez a percepção era de um “favorita de segundo escalão“, pelo
time jovem, ainda em consolidação após uma ótima euro perdendo para a campeã nos pênaltis. Os prognósticos todos indicavam uma vitória espanhola diante da Costa Rica. Mas o que tivemos foi uma vitória maiúscula, pro 7x0, virando 3x0 no intervalo. Troca de passes fácil, chutes certeiros, aproveitamento alto de passes. Um futebol leve, maroto, alegre, com espírito da molecada. Essa apresentação colocou definitivamente a Espanha no rol das favoritas, com imponência.

Bem, teve mais um jogo no dia, bem menos impactante. A geração Belga entrando na sua última chance de copa, mas num ritmo de sofrimento. Lukaku está fora, seu reserva nao correspondeu. De Bruyne esboça lampejos de sabedoria, mas não carrega o piano sozinho. No fim, 1x0 contra um esforçado Canadá, que perdeu um pênalti. Vamos ver os próximos jogos.

Quero ver como ficam os bolões daqui pra frente. Dois dias de muita reviravolta. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Dia #3 - Protestos tímidos, English team full throttle e a zebra árabe

 Copa começou, com tom de protesto sempre presente. Tão presente que elementos que muitas vezes passariam como normais foram destaque em muitos lugares.

O maior destaque vai pro fato que dos 20 gols marcados até então, 10 foram feitos por jogadores
Leonidas da silva e Enner Valencia
fonte: IG @ubiraleal
negros. É algo normal no futebol. Mas levando em consideração que dia 20 era dia da consciência negra, é todo o ar de opressão as minorias oriundo do conservadorismo Qatari, esse marco ficou importante. Nesse ponto, um post digno de destaque foi esse do Ubiratan Leal (que é um comentarista de baseball da ESPN, mas foi muito feliz nessa colocação sobre futebol) sobre a importância de Leonidas da Silva nesse processo. O diamante negro foi provavelmente o primeiro negro a fazer um gol numa copa do mundo, em 34.

Jogo de estreia morno. Ninguém sabia o que esperar do Qatar, e a resposta era nada. O goleirinho é que provavelmente vai propiciar risos e emoções, nada muito além disso. Enner Valencia entrou e resolveu com dois gols que valeram. E fez até um terceiro, mas perdeu ele pro VAR, que já vem dando suas caras todos os dias.

Segundo dia, é copa pra valer. Muitos jogos, muitos gols. E o destaque fica claramente pra Inglaterra. Antes do jogo, a polemica pela braçadeira colorida escrito "One Love": a Fifa disse que daria cartão amarelo ao jogador que estivesse em campo com ela. Com a ameaça, o protesto ficou tímido e virou 10 segundos de joelho no chão. Vale uma lida nesse texto do The Guardian que opina como a federação do país foi amarelona neste assunto.

fonte: Reuters via ge.globo
Com a bola rolando, o English Team mostrou o cartão de visitas, dominou o Irã, e fez um 6 a 2 contundente. Curioso é que Harry Kane chega pra mais uma copa como estrela, e nas bolsas de aposta é o principal candidato a artilheiro da competição. Mas ele não fez nenhum dos 6 gols. Já Saka teve dia de goleador e fez dois. (os outros foram de Sterling, Rashford, Belingham e Greslish - 5 gols de negros). Pra mim a Inglaterra chega até a semifinal. Mas pra grande maioria, é fogo de palha e não deve ir longe. Será a carga de tantos resultados frustrantes desde 66. Ou é como diz Mauro Beting: A Inglaterra inventou o futebol, mas não sabe bem o que fazer com ele. Nos outros jogos, destaque pra Tim Weah fazendo gol. Filho de George Weah, é o primeiro filho de um bola de ouro a fazer gol em copas.

Terceiro dia, agora sim a diversão. Jogo das 7 da manhã era estreia de Messi. Argentina favoritaça, não só pela tradição e ótimo material humano, mas pelo ótimo trabalho do técnico Lionel Scaloni, com 36 jogos de invencibilidade. Time sente a pressão, entra nervoso, ainda assim faz 4 gols no primeiro tempo, mas 3 foram bem anulados por uma linha impedimento visivelmente bem treinada. Segundo tempo, o time saudita acha um gol de contra ataque, se empolga, e faz um gol da virada maravilhoso. Dali pra frente, 11 atras da bola, e uma vitória histórica.
fonte: Natacha Pisarenko/AP via si.com
Para a Argentina, um golpe muito duro. O time não desaprendeu a jogar, mas precisa colocar o psicológico em ordem. Para mim ainda é uma grande favorita, e lembremos que a Espanha quando foi campeã perdeu o primeiro jogo. Mas para Arabia Saudita, ou mesmo pro mundo árabe, essa zebra entra pra história, digna de decretar um feriado. E assim fez o Rei.

PS: mais 3 jogos no dia. Vale comentar a estréia da França, que com desfalques mil antes, perdendo mais um no jogo, não teve dificuldade pra fazer 4 x 1 na Australia e espantar a zica do atual campeão. Giroud muito bem, Mbappe decisivo.