terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quase aconteceu a atropofagia futebolística.

Felipão e não Guardiola na Seleção. Sei que o assunto é velho. Pontualidade não tem sido muito o ponto forte deste blog, que volta lentamente a caminhar.

Mas o texto é bom a vale a pena um destaque.

Não sou contra Felipão na seleção para a Copa. Mas concordo plenamente com o o José Roberto Torero, autor do texto ,de que o Guardiola na seleção seria um marco de mudança drástica no futebol brasileiro, uma coisa nunca antes vista na história deste país. Uma semana de 22 no nosso futebol arte.

Posto abaixo o texto por completo. Quem quiser ver a publicação original no site da Folha de São Paulo, clique aqui. O texto é do dia 4 de dezembro.




Guardiola e a Semana de 22
Perdemos Guardiola, um Steve Jobs dos gramados. O futebol do Brasil precisa de uma Semana de 22, antropofágica. Nós temos de aprender com os alienígenas

A CBF chutou a bola para fora. Teve a chance de fazer um gol de placa, mas mandou a gorduchinha para fora do estádio.

Guardiola até já havia dito extraoficialmente que aceitava o cargo. Mas a CBF desprezou o melhor técnico do mundo.

Neste século não houve time mais impressionante que o seu Barcelona. Foram muitos títulos, largas goleadas e estatísticas impressionantes. O time venceu mais de 70% de seus jogos e não raras vezes teve mais de 70% de posse de bola, mesmo enfrentado equipes razoáveis como Chelsea e Real Madrid.

Em seus quatro anos à frente do clube catalão, o técnico venceu três campeonatos espanhóis, duas Copas da Espanha, três Supercopas, duas Ligas dos Campeões e dois Mundiais de Clubes.
Mas esqueçamos os números e os títulos. Era só olhar o Barça em campo que você sabia que aquele era o melhor time do mundo. Desde a Laranja Mecânica não havia um time tão inovador. Os catalães reinventaram o futebol. E de uma maneira tão humilhante que as outras equipes sequer conseguem imitá-lo.

Claro que Felipão é um bom técnico (e não vou usar o argumento do rebaixamento do Palmeiras para a Série B, isso foi apenas um tropeço), mas Guardiola é melhor. E não um pouco melhor, mas muito. É um Steve Jobs do futebol.

Se ele é o melhor técnico e temos os melhores jogadores, nada mais natural do que unir ao outro. Só que nada é natural no mundo do futebol.

Os argumentos contra Guardiola são: ele é estrangeiro, ele nunca dirigiu uma seleção e ele não conhece os jogadores brasileiros.

O terceiro argumento não é verdade. Temos mais jogadores selecionáveis na Europa do que aqui. E seria apenas uma questão de tempo para conhecer os que jogam no Brasil.

Quanto a nunca ter dirigido uma seleção, argumento usado por José Maria Marin, é uma bobagem. Felipão também nunca havia dirigido uma seleção antes de vencer a Copa do Mundo de 2002.
Por fim, contra o argumento patriótico, uso a célebre frase do escritor Samuel Johnson: "O nacionalismo é o último refúgio dos canalhas".

O que o Brasil precisa é de uma Semana de 22 no futebol. Precisa de uma antropofagia futebolística. Nas últimas décadas temos sido apenas exportadores. Mas chega de arrogância. É a hora de aprender com os alienígenas. Por que não trazer técnicos de fora? Nos outros esportes já estamos fazendo isso. E tem dado muito certo.

Com o argentino Rubén Magnano, a seleção brasileira de basquete voltará a disputar uma Olimpíada depois de 16 anos. Com o técnico norte-americano Barry Larkin, o Brasil classificou-se pela primeira vez para o Mundial de beisebol. E com o ucraniano Oleg Ostapenko, as meninas da ginástica olímpica chegaram onde apenas haviam sonhado.

O argumento nacionalista é de uma hipocrisia imensa. Afinal, a empresa que controla a seleção até 2022 é a saudita ISE -a seleção, nos últimos três anos, jogou 42 partidas, mas apenas cinco no Brasil.
Ou seja, os torcedores podem ser estrangeiros, a empresa controladora pode ser estrangeira, mas o técnico não? Hipocrisia.

Era o momento da revolução -não como a que Marin apoiou em 1964, é claro. Mas perdemos o bonde da história. Ou o trem-bala, para atualizar a frase.

Com Guardiola teríamos mais chance de voltar ao alto do pódio do futebol mundial. A seleção poderia transformar os adversários em bobinhos, e eles ficariam apenas correndo atrás da bola no meio da roda.

Mas preferimos o passado.

A troca de Mano por Felipão foi mais ou menos como a troca de Ricardo Teixeira por José Maria Marin. Trocou-se alguma coisa para que tudo continue como está.