sexta-feira, 9 de julho de 2010

Dia #26 - Espanha 1 x 0 Alemanha - Puyol encarnou a fúria

O grande duelo da copa. Há 4 dias que só se fala disso. Nas matérias completas da mídia em geral sobre as semifinais, o outro jogo ficava até com menos espaço.
Era o duelo do time que a todos encanta contra o time que todos queriam ver encantar, mas que mesmo não encantando está ganhando.

Esse jogo introduz o mais novo personagem da Copa. Depois dos Pássaros Galvão, da Jabulani, do Maradona, o mundo animal introduz o Polvo Paul nessa grande caricatura chamada Copa do Mundo 2010. É um polvo que adivinho os vencedores dos jogos através de caixas de comida.

Este Polvo já é um personagem do meio futebolístico desde a Euro 08, quando ele errou e disse que a Alemanha seria campeã, mas acertou os jogo precedentes, ainda que tenha sido perguntado somente a respeito dos jogos envolvendo alemães. Nesta Copa, novamente ele foi consultado, e até agora acertou todos os jogos germânicos, inclusive a derrota para a Sérvia. E para este jogo, o palpite dele é, Espanha. E olha que ele é alemão.

Meu palpite também era pela Fúria. Mesmo com o exército revolucionário de Joachim Low tendo feito 4 gols em duas potências, e a Espanha tendo sofrido para passar do apagado Portugal e tendo feito o mundo sofrer ao vencer de um jeito muito magro o time da Larissa Riquelme. Porque a esquadra germânica vinha sem um peça fundamental, Mueller. E os ibéricos tem seu maior trunfo a posse de bola, que inviabiliza o jogo rápido de contra ataques do time alemão.

A Espanha ganhou ainda mais pontos comigo quando vi que na formação inicial Del Bosque deixou Torres no banco e veio com o moleque Pedro desde o início. Nada melhor do que atacar a Alemanha da forma com que ela surpreendeu a todos: apostando na velocidade, vitalidade e no descompromisso da juventude. Boa análise de posicionamento do jogo feita por Mauro Beting, pode ser vista aqui.

Desde o início, viu-se que técnico do super bigode estava certo. A movimentação de Pedro infernizava a zaga alemã, que entrara em campo estranhamente apática, junto com o time todo. Pela primeira vez no mundial, o excesso de juventude pesou, e a mescla da experiência com a juventude deram o toque especial ao jogo espanhol. Busquets, Xavi, Xabi Alonso, e Iniesta rodavam a Jabulani de um lado ao outro do campo parecendo time de handebol, só esperando momentos certos para os "pivôs" Pedro e Villa se desmarcarem para receberem um passe e concluir. A Alemanha tentava não perder a concentração, pois sentia que um erro seria fatal, e então permitiu somente duas grandes ocasiões de perigo. No primeiro tempo, junta-se a estas somente uma terceira ocasião para Puyol em jogada de escanteio, pouco usual no repertório desta equipe.

A Alemanha, como já foi citado no parágrafo anterior, estava estranhamente apática. Parecia sentir o peso da decisão. Ozil foi muito bem anulado por Sergio Busquets. E Trochowski era esforçado, mas não conseguia substituir Mueller a altura. Klose e Podolski até recebiam a Jabulani de Schweinsteiger Lahm e Boateng, mas não tinham a frieza do domínio para manter a posse e gerar lances de gol. A única coisa que pode ser discutível neste tempo alemão é um possível pênalti em Ozil. Mas bastante discutível, passível de interpretação do momento.

Na segunda etapa, o cenário se mantinha, com a Espanha sendo perigosa duas vezes com Xabi e Villa, em chutes de fora. Kroos, substituto de Trochowski, exije de Casillas uma grande defesa em sua primeira participação, numa das raras vezes que a Alemanha conseguiu encaixar contra-ataque. Blitz espanholas permitiram ainda mais 3 grandes, sendo 2 com um impossível Pedro. A Espanha teve como pior índice durante o jogo, 58% de posse. incrível.

O gol veio aos 27', de um jeito pouco usual. Como no primeiro tempo, Puyol tentou mais uma vez uma jogada ensaiada de escanteio com Xavi. Mas desta vez, a corrida voraz e sem marcação, somada aos olhos bem abertos e emanando espírito de fúria, fizeram a cabeçada se transformar em gol, estufando a redes mais do que Roberto Carlos seria capaz em falta da meia lua sem barreira. Certamente, quando a Jabulani morreu lá no fundo, estava com dor e náuseas, vendo tudo girar, sentindo-se nocauteada. André Kfouri descreve este jogo como um tourada, e o gol como uma espetada no fundo da carne do touro holandês. vale a pena dar uma olhada.

Interessante dado que só a enciclopédia do futebol chamada Paulo Vinicius Coelho poderia reparar: era o primeiro gol da Espanha em jogada parada neste mundial. Mas era de se esperar, pois o grande trunfo deste time é a posse. Tanto que daí em diante o time simplesmente tocou a Jabulani de um lado ao outro. E vale destacar que isso é feito muito conscientemente, e de forma treinada. Dificilmente um toque percorre mais do que 5 metros, pois o domínio depende da passagem de pé em pé. O domínio é claro e indiscutível, e percebe-se que é o foco da equipe. O gol é consequência.

Pedro nos fez lembrar que ainda é mesmo moleque quando foi fominha e perdeu a chance de ampliar, ao querer concluir num momento em que o recém entrado Torres tinha gol aberto. E saiu logo em seguida, sabendo do erro que cometera. Nos minutos finais a
Espanha se segurou como pode. E no apito final, todo o time correu para abraçar Puyol, o herói catalão, naquele momento simbolo maior da unidade espanhola.

A Alemanha decepcionou nesta partida, mas sai de cabeça erguida do mundial. E já nos deixa em alerta para nosso mundial em casa. Certamente será um time muti forte até lá, quando os vários talentos amadurecerão. Ozil e Mueller prometem muito ainda.

No fim, vale lembrar que Paul, o Polvo, mais uma vez acertou.

Dia #25 - Holanda 3 x 2 Uruguai - A consistência laranja termina com o sonho celeste.


Mesmo sendo encarado com menor importância, este ainda era um jogo de semifinal de Copa do Mundo. A Holanda representava o time eficiente, que desclassificou o Brasil e está invicto há 2 anos. O Uruguai era a sensação do torneio, surpresa total até para eles mesmos, mas que trazia o melhor treinador da Copa e a esperança de todos os não europeus.

Muitos desfalques deixavam a celeste bastante desfigurada. O incrível sacrifício de Luiz Suarez desfalcava o ataque, e o multi-caras Lugano era o grande desfalque da defesa. Já a laranja vinha com peças até que bem substituídas, pois trocar um coadjuvante por outro é bem fácil.

O primeiro tempo teve um início de domínio holandês, sendo logo em seguida revertido para a celeste. Até que Giovanni Van Bronchorst acertou aos 17' um petardo no lugar geométrico mais próximo possível do que a linguagem boleira gosta de chamar de forquilha! Golaço incrível! Contando com um pouco da sobrenaturalidade da Jabulani, apenas para dar o toque milimétrico-plástico-cinematográfico do lance. Podia ser uma latinha amassada dessas que se usa pra jogar no recreio de milhares de escolas brasileiras, que entraria bem perto daquele lugar.

Vantagem holandesa acho que não merecida. O empate era o mais justo. E ele logo aconteceu nos pés do craque sulamericano: Forlán chutou também de longe, e dessa vez contou com bastante das danças da Jabulani para empatar, bem no final da primeira etapa. Todo mundo para o chuveiro na igualdade.

Para a segunda etapa, o técnico holandês tirou um volante e colocou Van de Vaart, visando o crescimento do volume de jogo laranja. Mas o Uruguai teve um virtude que o Brasil não teve, que foi tocar mais curto e manter a posse à espera de uma oportunidade. A Holanda realmente aumentava seu volume no ataque, porém sem conseguir envolver o uruguaios como fez em outros jogos.

Foi quando a individualidade de Sneijder, o maior candidato a craque da Copa, apareceu, junto com mais um capítulo da maior candidata a vexame da Copa, a arbitragem. O meia holandês limpou a marcação e chutou da entrada da área em direção ao gol. No meio do caminho, Van Persie, em posição de impedimento, não toca a Jabulani, mas claramente tenta e atrapalha o goleiro, caracterizando participação na jogada. É gol ilegal aos 25', vantagem laranja.

O Uruguai reclama, mas ainda acredita que o jogo pode ser ganhou em campo. Porém, 3 minutos depois Kuyt encontra Robben bem colocado para ampliar a contagem. Portenhos sentem um pouco o golpe desta vez. Mas continuam tentando.

Pela ausência de Suarez, Forlán veio mais adiantado, ao lado de Cavani, e assim o Uruguai perdeu seu grande trunfo na Copa até então, que era a armação de sua estrela. Oscar Tabarez até tentou, mas não tinha peças em seu elenco à altura de um semifinal de Copa, por isso optou por jogar com as melhores peças que tinha em mãos. A garra uruguaia se fez presente em muitos momentos do jogo, coisa que o Brasil não sabia fazer. E no fim, Maxi Rodriguez diminuiu o placar, colocando emoção nos instantes finais.

Mas não deu. A Holanda jogou a sua pior partida no torneio, mas estava na final 32 anos depois. Os uruguaios caíam com honra. Será que foi diretamente culpa do juiz, como defende Vitor Birner? E o que será que aconteceria com mais 10 minutos de jogo (pergunta que Andre Loffredo colocou no pós jogo da Sportv)?

O fato principal é que o Uruguai se redescobriu para o futebol. Teve uma chance bem aproveitada para mostrar para si mesmo que não é só passado, mas que tem um história de glórias que pode voltar no futuro. Ótimos textos sobre isso podem ser lidos em Lédio Carmona e Marcelo Barreto.

Mas os laranjas estão na final, com muitas chances de titulo. Será que Cruyff está feliz, ou vai dar uma das suas e mostrar dor de cotovelo?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dia #22 - Quartas - Brasil 1 x 2 Holanda - Quem explica o apagão?

Primeiro grande teste para os "dungaboys" no mundial. E também para a Laranja. A diferença é que os europeus vêm de dois anos de invencibilidade, e um futebol pragmático e consistente, porém sem brilho. Já a Canarinho foi amplamente contestada em 2 e amplamente elogiada em outros 2 jogos deste mundial. E fora um bom amistoso contra Itália, só jogou contra adversários ruins desde o jogo em que se classificou
matematicamente para o mundial, inclusive perdendo da Bolívia e empatando com a Venezuela.

Na formação inicial, uma surpresa de cada lado: Oojer entra na zaga holandesa, e Felipe Melo, apesar da contusão contra Portugal, vem entre os titulares.

O primeiro tempo faz o torcedor brasileiro sonhar. A Seleção domina a Holanda com maior posse e jogadas perigosas. Antes dos 10', Robinho abre o placar após cruzamento de Daniel Alves, mas o gol é corretamente anulado devido a posição irregular do lateral.

Logo em seguida, cerca de 5 minutos, outro gol, agora legal: Felipe Melo da um passe, no melhor estilo Gérson, no meio de uma defesa laranja mal posicionada, e encontra Robinho livre para completar para o gol em apenas um toque. Superioridade brasileira refletida com justiça.

E o domínio não parou por aí, a impressão era que viria uma goleada. Ótimas triangulações no trio ofensivo, que acabaram em chances claras desperdiçadas por Kaka e Luís Fabiano. Escanteios perigosas não aproveitados pela alta zaga. E o
primeiro tempo acabou com um gostinho de que a Holanda, apática ofensivamente, tinha saído no lucro.

Após o intervalo, as equipes retornaram sem modificações.

Mas atitude mudou. Na saída de bola já se viu um erro bisonho do time brasileiro. E logo Sneijder e Robben começaram a aparecer mais.

O atacante começou a ter mais liberdade, inclusive para dar a sua jogada já manjada, o corte para dentro seguido de arremate. O meia, sumido no primeiro tempo, foi logo efetivo: Num cruzamento seu aos 8', o melhor goleiro do mundo Julio César errou a saída, e Felipe Melo desviou acidentalmente para as redes.

Nesse momento, a seleção brasileira reagiu da pior forma possível. Acusou duramente o golpe e não conseguiu se recompor. Quinze minutos depois, em escanteio sem sentido concedido por Juan, os laranjas aplicaram uma jogada ensaiada com desvio no primeiro poste e gol de Sneijder de cabeça no centro da área pequena. Ele mesmo, outra vez. E com só 1,70m de altura.

Duelos entre Brasil e Holanda são sempre marcados pela dificuldade, disputas acirradas no placar, como em 94 e 98. Mas desta vez, diferentemente das outras percebia-se que ao nervosismo brasileiro seria o maior empecilho.

Felipe Melo, a grande aposta de Dunga, foi sempre muito contestado pelo temperamento instável, e excesso de violência. No jogo contra Portugal já demonstrou claramente isso. E logo após tomar a virada, foi disputar um bola com Robben e além de fazer a falta, deu um pisão no holandês, amplamente visto pela TV. O árbitro não precisou de replay ou auxiliar para avermelhar o brasileiro.

Daí em diante, faltou cabeça ao time brasileiro. Apagou tudo. Dunga precisa dar uma chacoalhada na equipe, mas não possuía ninguem no banco capaz de fazer isso. Robinho sumiu, Kaka deve ter sentido dores, um sumido Luís Fabiano deu lugar a um Nilmar com vontade mas nulo quando sozinho. E o sonho do Hexa ficou para 2014.

Agora, momento da caça às bruxas. Culpa de quem? Certamente uma parcela considerável de Dunga, E Felipe Melo? Ele foi o que sabia ser. Errou quem depositou confiança nele quando ele não poderia corresponder. Infelizmente, é um jogador médio, violenta, na medida para jogar campeonato alemão, não Copa do mundo pelo Brasil. Teve momentos de brilhantismo, como no passe do primeiro tempo, mas na pressão sempre espana.

E ele só foi para campo hoje porque Dunga não tinha substitutos em quem confiava. Com Ramires suspenso, os jogadores que receberam a copa como "prêmio" pesaram. e poderiam ter dado lugar a peças mais úteis.

Que eu penso da gestão de Dunga? Temos que aprender, e não esquecer, como disse PVC. Entender que o radicalismo não serve para nada, seja ele ditador (esse ano) quanto "open bar" (como em 2006). Saber que a diferença que o futebol brasileiro tem do resto do mundo é o talento, e talvez estrelas meteóricas têm que ser levadas em conta. A Seleção Brasileira deve ter vários jogadores capazes de desequilibrar, pois nós temos isso em abundância. Sem isso, somo normais.

O Brasil foi rotulado nesta copa, na mídia de língua inglesa, como "The Sambakings". Esse nome resume muito do que penso. Nessa época de futebol carrancudo, fechado e turrão, a alegria e a desenvoltura brasileira precisa brilhar. Senão, seremos comuns. Ou até piores que os comuns.