Qual era o tamanho dessa final? Qual a importância que ela tinha para um lado, para o outro, e para o resto do mundo?
Seja lá qual fosse, ela foi maior.
Quanta história foi contada até o apito inicial: influência de bastidores, propina descarada, gente presa. Trabalhadores explorados, gente morrendo nas obras, estádio no deserto com ar condicionado. Violação de direitos humanos, data mudando pra novembro. Brasil sobra nas eliminatórias, jogo com a Argentina é cancelado dentro de campo, Itália é campeã da Euro e fica de fora, Benzema é melhor do mundo e é “cortado” já no Qatar. Repressão LGBTQIA+, censura à críticas, cerveja no estádio é proibida na véspera.
Bola rola, zebra aparece, Arábia ganha, Japão ganha, Bélgica perde, Alemanha tapa a boca mas também perde. França domina, Argentina sofre Brasil sofre, Marrocos encanta. Croácia empata e passa.
Vem oitavas, Holanda vence, Inglaterra convence, Portugal goleia. Mbappe domina, Brasil parece Hexa, Messi controla, Marrocos encanta. Croácia empata e passa.
Nas quartas Messi desabrocha, Van Gaal quase consegue, Kane isola, França domina. CR7 chora, Marrocos encanta, Brasil sofre, Neymar faz golaço, quatro minutos, Croácia empata e passa.
Nas semis, França se impõe, Marrocos perde e ainda assim encanta, Messi doutrina, Croácia finalmente vai embora.
Ufa! E esse jogo ainda nem tinha começado.
Quando começou, estava visivelmente desequilibrado. Eram 11 franceses contra um Messi mais 45 milhões de Argentinos. O time albiceleste estava muito mais dentro do emocional necessário para tal jogo, e traziam consigo a carga emocional do país todo. Como já falei em outros textos desse blog, o cenário pra Argentina é muito parecido com o Brasil, pro bem e pro mal. E nesse jogo, aquele que importa, eles soubera usar a parte para o bem.
Messi veio pro jogo da vida inspirado e comandava um time disciplinado na marcação alta. Defesa da França sofria, um bom Varane não era suficiente para parar o ímpeto portenho. E aos 21, Di Maria, a surpresa do dia na Scaloneta, acha um pênalti maroto, desses que só acontece no futebol sulamericano. Messi abre o placar.
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Momento em que Di Maria sofre o pênalti. Cazé TV |
primeiro gol do Messi na final. Agencia EFE |
O baile de bola fica ainda maior. Aos 35, depois de mais uma infrutífera tentativa francesa, a bola é cortada na zaga, passa a toque único por Mac Allister, Messi, Julian Alvarez, que volta pra Mac Allister. Nesse momento ele já está na entrada da área francesa, e quando qualquer jogador iria para o arremate, ele tem a frieza de jogar pra esquerda, fazê-a passar na frente de 2 franceses e do goleiro, e chegar outra vez em Di Maria, que arremata pro gol. Que fantástico! A baixo o corte do gol na transmissão do Casimiro.
O massacre era tal, que Deschamps troca 2 atacantes aos 40 do primeiro tempo: saem Giroud (reclamando) e Dembele, entram Kolo Muani e Thuram.
A sensação de vitória no time argentino era muito intensa. Não só pelo resultado, mas pelo futebol jogado pela França. Saem pro intervalo e na volta a situação se mantém, tentativas frustradas de um lado e chances boas do outro. De Paul dominava o meio, só era vencido se sofria faltas. Mas a Argentina tinha um histórico de queda em fim de partida (Holanda que o diga), e a França de consistência. O técnico faz mais mudanças, tira até o Griezmann, diferencial do time nos outros jogos. Conforme o tempo avançava, eram mais chances azuis. Até que foi a vez do lado europeu achar um pênalti. Kolo Muani disputa com e chega na frente de Otamendi, este tenta aquele puxão misturado com um grito que passaria como bem duvidoso numa Libertadores, mas pra um juiz polonês não. Mbappe acorda da jaula e marca.
Mbappe no arremate do segundo gol. Getty images |
comemorando o empate! Que momento, que virada de astral.
Quem tem chance no final é França, que acordou de uma forma inexplicável. São mais de 5 chances, com duas defesas de Martinez do momento do empate até os 8 minutos de acréscimo. Mas vamos pra prorrogação.
O primeiro tempo extra teve oportunidades criativas dos dois lados, mas sem real chance. Times pareciam meio anestesiados. Já no segundo tempo da prorrogação, a temperatura começou a esquentar de novo. No segundo minuto um ataque em bloco da Argentina, um belo passe de Enzo acha Lautaro, que chuta no goleiro, mas cujo rebote cai caprichosamente no pé do Messi, que faz o terceiro. Que explosão!
A massa portenha mais uma vez toma conta do estádio, aos gritos, parecendo que agora vai. Mas esse jogo reservava mais requintes e emoção. Konate briga para conseguir um escanteio na direita. Depois de batido o corner, a bola sobra pra um chute de fora da área que é desviado com o cotovelo por Montiel. Mais uma vez Mbappe vai pra batida, mais uma vez jogo empatado. O menino que ama jogar copa do mundo, aos 23 anos anotou um Hat trick em final. Que força mental
photo: getty images |
Agora sim, vamos a eles. Cada time começando com o que tem de melhor, marcando com Messi e Mbappé. Mas Dibu se consagrou pegando o primeiro "pênalti pegável", batido por Coman. Em seguida, faz a pressão psicológica em Tchouameni, que chuta pra fora. Enquanto isso, os argentinos vão fazendo em chutes seguros, com Dybala e Paredes. Kolo Muani até faz, mas cabe a Montiel, o mesmo que tinha cometido o pênalti do 3 x 3, se redimir e fazer o 4 gol na disputa. Argentina é tricampeã mundial de futebol.
A história foi escrita. Messi agora tem todos os argumentos para passar a ser considerado como o melhor de sempre. Ele finalmente é campeão mundial. E muito merecido. Mbappé engrandeceu ainda mais essa conquista. Esse menino tem tudo pra ser o maior jogador da história das copas. Ainda pode jogar mais duas, talvez até 3. Mas pra Messi provavelmente foi a última, fechada em grande estilo.
Parabéns ao hermanos! Que festa espetacular nas ruas de Buenos Aires. Ficará para história.
Este blog, 12 anos depois, pode dizer que finalmente registrou o relato de uma final de copa do mundo. Provavelmente isso estava guardado para essa que foi a maior de todas as finais da história até aqui. E fica o registro que o título deste post, quem deu foi o maior de todos os meus espectadores, meu filho Bê. Filho, amo você!
Obrigado a todos que nesses 28 dias acompanharam, comentaram, criticaram, pediram mais textos. Como prometido lá no início, vivemos intensamente esse momento.